Sigamos com as nossas reflexões sobre Poder já iniciadas para entendermos as masculinidades. Considero que associar poder a liberdade pode ser uma grande ilusão se, nessa associação, a referência for ao Poder Sobre – aquele que depende do destaque hierárquico e da subordinação do outro para existir.
Num sistema hierárquico que busca a distinção, o status quo está intrinsecamente conectado com a escala hierárquica ao qual pertence, portanto o poder é bastante dependente. Para mim, dependência e liberdade não combinam. Há aqueles para quem podem combinar. Talvez porque só se veem dentro do sistema. Mais: talvez a sua existência consista em buscar o tempo inteiro fazer parte/ser aceito/se manter dentro do sistema. Para eles, é claro que poder significa liberdade. O sistema premia com privilégios, destaque e, em diversos casos, até a sensação de estar acima da lei.
Só que o sistema também cobra. Ele é opressor ao se tornar vigilante e obcecado para que todos sigam as regras ditas e não ditas. É simples de notar nas semelhanças que beiram a igualdade na estética física, no design das casas, nas roupas utilizadas, nos locais frequentados, nas carreiras escolhidas pelos filhos, no tipo de férias desfrutadas… Há um motivo para tanta semelhança: a confirmação constante do pertencimento.
A liberdade que vive no nosso imaginário parece estar longe disso. A liberdade mítica existe à medida que adquirimos independência dos moldes estruturais da nossa sociedade, que são impostos pelo grupo dominante. Isso tem mais a ver com o Poder Para, explicado no meu último texto.
Na prática não significa necessariamente romper com qualquer elo de dependência com as estruturas. Até porque acredito que viver em sociedade é a forma mais saudável de estar no mundo. Mas ter autonomia para não se submeter e interagir com sabedoria, para mim, é o que hoje entendo por liberdade. Qual o caminho? Confio no caminho do autoconhecimento e de conexão com a nossa alma.