Só depois de um mergulho maior nos estudos sobre as masculinidades consegui compreender que estudar esse tema é estudar sobre poder. Na sociedade que construímos por milênios, um está absolutamente conectado com o outro. Pode parecer óbvio, eu sei. Em minha defesa, posso dizer que conhecimento se constitui de camadas de entendimentos e, à medida que vamos desnudando o assunto, alguns conceitos vão se configurando como centros catalisadores que articulam toda a rede de saberes e práticas ao seu redor. O poder quase como sinônimo de identidade masculina é um deles.
+ Homens irresponsáveis e o machismo
Se aceitarem minha proposta, nossa interpretação sobre os movimentos atuais de reversão dos programas de diversidade and equidade alardeados com tanta pressa e contundência (talvez prazer?) pelo atual governo dos Estados Unidos, bem como a série do momento, Adolescência, dos roteiristas Jack Thorne e Stephen Graham, podem nos levar a uma discussão menos periférica – embora fundamental – colocando em foco a nossa relação com o poder.
Proponho iniciar a reflexão sobre poder trazendo esse conceito para nossa vida. Enquanto buscarmos sentido de realização and reconhecimento de ser alguém através da diferenciação focada na ambição de estar/ser o topo de uma hierarquia, estaremos apoiando a existência da supremacia, que, por sua vez, para existir, implica a subordinação de outros. Subordinação, devemos lembrar, significa dor, significa abuso, significa exploração. Como ser alguém num sistema hierárquico que não subordine? Como ser alguém com destaque e relevância – não é esse o problema – sem que tenha que menosprezar o outro?